segunda-feira, 18 de maio de 2015

RATO DE MOCORÓ
Seh M. Pereira
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É preciso ter sorte, até para tomar café da manhã. Senão o pão cai; e com a manteiga virada para baixo.
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Sabe quando tudo dá errado?
Sabe quando você acorda e senti um troço estranho, mas não sabe bem o que é?

Tomei uma ducha, escovei os dentes e fui pra rua.
Quando chego no quintal. Adivinha só?
E o carro?
Roubaram a minha caranga..

Comecei a rezar.

Me deu um desespero, que contando você não acredita.
Abri o portão, daquele jeito, e quando penso que não, minha caranga lá no final da rua.

Saí correndo feito um doido.
Abri a porta do carro e tudo normal.

Corri em casa, peguei a chave e voltei no outro pé. Para guardar o possante.

Coloquei a chave no contato e nada do carro ligar.
E não é aquela coisa do vrum vrum puf.
Não ligava mesmo..!

Abri a capota e você não vai acreditar. O ladrão roubou a minha bateria.
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No racha, conheci todo tipo de bandido. Traficante, ladrão, todo tipo.
E pra mim, isto até que foi bom.
Perdi o número do tanto de vezes, que cheguei tarde da noite em casa e ninguém nunca mexeu comigo.
Também nunca mexeram com a minha mulher, nem com as minhas filhas.

Ó, sempre fumei meu cigarrinho. Tomei meu negocinho, mas nunca me misturei.
Saía com o time, disputava campeonato e tudo.
Só tinha gente fina.
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- Mexeram na minha caranga.
- Como é, queridão?
- Mexeram na minha caranga.
- Ahn?
- O ladrão abriu o meu portão. Roubou a minha bateria e desovou o possante no final da minha rua.
- Ahn?
- Quer dizer que a bateria valia mais do que o carro? Nunca me senti tão humilhado!
- Segura na confiança, queridão.
- O pessoal me ajudando a empurrar o carro e dando risada da situação.
- Queridão, segura na confiança.
- Tenho, até, a nota fiscal.
- Segura na confiança.
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Algo me dizia, que o racha tinha visto a minha bateria.
Sabe quando você fica com aquilo na cabeça?

Cheguei em casa e o único que parecia estar feliz em me ver, era o Tranquilidade.
Isto porque todos queriam que eu cortasse o rabo dele..!

Mal cheguei, e ouvi batendo no portão.

Olhei pela janela.

Era os gente fina do campinho. Tudo armado com pedaço de caibro.
E ao centro, um infeliz segurando uma bateria.

Uma perna travou e a outra tremia.

Quando apareci no quintal, começaram a comemorar.
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- Queridão, achei sua bateria.

Abri o portão e já foram logo entrando: - Coloca no possante. Vê se é.
Eu bati o olho e já sabia que era.
Quando fui fazer a instalação, fiz as marcações.
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- Não sei se é.
- Dá uma olha e vê se é.
- Não sei se é.
- Pega a nota fiscal. Você não disse que tem a nota fiscal? Vê se a numeração bate.

Entrei em casa rezando.
Rezei tanto que descobri o quanto eu era religioso e não sabia.
Peguei a nota fiscal no bolso da calça.
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- Vê se bate a numeração.
-  Bater, bati. Mas não sei se é.
- Criando Rato de Mocoró, queridão. Rato de Mocoró não se cria. É ou não é?

Se eu continuasse negando, o time vinha para cima de mim.
Eu hein!
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- Acho que é.
- Toma. Coloca a bateria na caranga. Vê se liga.

Abri a capota.
Coloquei a bateria no lugar e fui para dentro do carro.
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- Quer que eu ligo pra você?

Eu tremia tanto, que quando encostei a chave no contato
o carro ligou.

Começaram a comemorar.
O pão do infeliz caiu com a manteiga virada pra baixo, você acredita..?
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- Queridão, agora abre o portão. Que a gente vai dar uma volta. Entra todo mundo na caranga!
- No meu carro?
- Coração de mãe.
- Não cabe!
- Segura na confiança. Todo mundo. Entra.

Abri o portãozão e os três sentados no banco da frente me guiando.
Entra ali, vira aqui.
Segue reto.
Vira aqui.
Vira ali.
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- Para aqui, queridão.

Desceram.
Pediram que o infeliz se ajoelhasse e me entregaram o caibro para que eu desse o pontapé inicial.

O sujeito em posição de misericórdia.

Imagine você.
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- Podem fazer o que quiser comigo. Mas eu não consigo.
- Homem do coração bom, viu!

Tomaram a madeira da minha mão. E o resto deixo por sua conta.
Só sei que depois daquele dia, ainda não consegui dormi.
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