terça-feira, 3 de novembro de 2015


Seh M. Pereira
.
.
.
.

E
do sangue
que benzia-lhe as
pernas, a cura; da roca-viva, os
giros dos ponteiros. Das
contrações de
um

quarto-gestante.. Do
.
.

enovelamento, não como os
outros
emaranhados de
linhas descontínuas que me silenciam.. Grito
tudo
sem saber o
que deve ser adiado, mas
às vezes tento

não
.
.

impacientar tudo que
acredito.. Conservo os nós que me une
aos cordões umbilicais, e tento
reapropriar-me
dos

meus
.
.

passos deixados.. Conservo em mim, a
fé de minha
Maria;
.

avó,
.

fiandeira do meu tempo.. Virgem de
milagres. Às vezes permaneço adiado nos vãos que se
anunciam através da
incompletude das linhas tracejadas, e me
propõem preenchimento.. Tento ter
mais pressa que os ponteiros
que continuam dando-me

giros, mas
.

às vezes
.
.

permaneço vão.. Vãos de uma
linha tracejada que me
propõem preenchimento; do sangue que benzia-lhe as
pernas, a
.

cura; roca-viva, os
giros dos
ponteiros; minha fiandeira do
.
.

tempo.. Tendo a um
só santo
etiqueta, mas às vezes este de
casa se torna a
minha própria ordem de
.

despejo.. Às
vezes tento conservar o meu
resto de grito; às vezes
tento

a
.

paciência de falar de milagres que
não cheguei a ver. Às
vezes tento me
aproximar dos meus outros
natos, lã a

lã.. Dos

meus
.
.

ditos, ou silêncio,
nada têm de
definitivo.. Permaneço no mudo-raso, ou
concepção, do meu velho par de
sapatos que reaprendem a
.
.

gastura..

.
.

.

.
.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

TABULEIRO
Seh M. Pereira
.
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.
.

cavalgo
em
.
.

elefante, na gira que acrescenta um
descontínuo ao
meu chão-cru.. tento não
permanecer sob as ameaças dos meus próprios
.

não-ditos.. a
quebra do silêncio ao anúncio do término do
prazo da penhora. inúmeras vezes
inúmeras.. as trocas de
.
.

confidências
entre os

outros eus e as paredes de um quarto-gestante. tento
não permanecer adiado.. corto as
arestas do meu
sinal da cruz, em prejuízo do meu joelho-vesgo. pés-inquilinos,
.
.

desapropriados dos
.

sapatos, a
fiar o tempo-aluguel a fim de um
enovelamento dos vãos de um emaranhado
de linhas tracejadas.
.
.

cavalgando em
elefante.. da gira dos ponteiros sem passar pelo
ponto de partida, refazendo as
minhas voltas tomadas
inúmeras
vezes inúmeras. são meus não-ditos os
encarregados de realizarem meus partos, e me informarem
os
.

partos de
um
.
.

chão-cru de si próprio.. cavalgando em
elefantes.. tento não
permanecer penhorado sob meus ditos vendados, nas
prateleiras de uma loja de
antiguidades. o tento de derrotar este círculo
na gira, ou

apenas
.
.

mostrar aos ponteiros que
permaneço

a
.

preencher estes
vãos. das voltas tomadas que
acrescentam a incompletude do meu
chão. nosso amor é
.

uma pata de elefante tentando adentrar o céu..
.
.
.

domingo, 4 de outubro de 2015



QUIRERA
Seh M. Pereira
.
.
.
.

Resgato os meus
não-ditos, antes pendurados nos
cabides da loja de antiguidades, e me cubro.. E
que
.

meus natos possam construir
suas casas de
tijolos, ao corte dos cordões umbilicais.. E
que eu possa reconhecê-los, mesmo não portando as certidões
.
.

de idade..
.
.
.


TONO
Seh M. Pereira
.
.
.
.

E tento
não gorar a minha
gastura dos
.

sapatos, mas às vezes este mesmo
passo já nasce gorado por si só; não há quem o estufa. Às vezes este
mesmo passo deixado me acolhe.. Tento o resgate dos
meus não-ditos, antes

do
.
.

vencimento do
prazo estabelecido no dia da véspera; antes da aquisição de
terceiros. Pés-inquilinos
que se perdem no tempo-aluguel não
constroem casa
de tijolo..
.
.

.


domingo, 12 de julho de 2015

MOINHO
Seh M. Pereira
.
.
.
.

E mesmo sendo a
gira..! Ou mesmo não sendo um
gorado do meu próprio novelo.. Sendo a roca
viva, e
.

o eixo enferrujado dos ponteiros pelo gota a gota do
tempo.. Ou até
mesmo, também, não sendo
minha estufa, e olhos abertos; conheço meus
sóis. O

sendo, sou eu..
.
.

Não sou eu, o semideus que corta as
deixas, mas sou eu que decide ao chão-cru..! Sou eu que
decide se corto as deixas, ou corto o meu semideus e desfaço a véspera: o

decide,
.
.

sou eu.. Os outros gorados de mim são tão
nato, quanto o
nato que me leva ao centro

de
.

minha vida: o tão, sou eu..! Carrego o silêncio que vaza pelos corredores de
si próprio; mas não me engana pois o
mundo vai estar lá, e ela pulsa: o pulsa, sou eu.. Sou eu, o
mundo ao entrar no
chão-cru, e minha certeza sobre os meus pés é
que não dá para voltar.. De lã em

lã,
.
.

às vezes me aplaudo..! Às
vezes
.
.

silencio.. Sou eu, os inúmeros natos que
ensaiam seus não-ditos ao mesmo tempo sem que um
destextualize o outro.. Sou

eu,
.

os inúmeros.. Os sóis sobre mim foram feitos para permanecerem
apagados, mas faço a desfeita e
.

aplaudo-me: mesmo
antes do parto começar.. Atravesso as horas, enquanto
ensaio os monólogos que me
complementam e o ensaio para..! Questiono-me se
realmente
.

meus outros eus deveriam ter parado; pois
.
.

sou eu, o mundo..! Sou eu, o
enquanto. Sou eu, os
complementam..! Sou eu, o não para.. Sou eu, o
ruido do eixo que
nada mais
é

do que a ferrugem do gota a gota do tempo.. Sou eu, quando me aplaudo!..
.
.
.
QUIÇÁ
Seh M. Pereira
.
.
.
.

Só durmo com
cão que
.

não

tenha sarna,
mesmo se for o dos diabos..!
.
.
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quinta-feira, 9 de julho de 2015



ZIGOTO
Seh M. Pereira
.
.
.
.

Talvez a poesia seja

este
pipa que acabou de cair na
minha laje, agora
que

estou

velhinho..
.
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quinta-feira, 25 de junho de 2015

ROSA PRETA
Seh M. Pereira
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.
.
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Nasci sem
porte e desprovido
de

beleza.. Sem esses atributos..! Sou, só,
mais um  
.
.

imperfeito; a espera do tento,
vida comum. Nem sempre corro pelo
certo.
Amarro-me em
Jesus Cristo, mas a outra

face
.

não entrego..! Respeito meu codinome Rosa Preta..! Não nasci
em berço de ouro.
Ouro de tolo,

não me convém!.. Sem um puto no bolso.. Sou, só,
mais um imperfeito..
.
.


A espera do tento, vida comum.

Nem sempre ajo de
uma forma politicamente correta..!
Sei que
não posso ser assim, mas
vou tentando ser.. Respeito meu
codinome
.
.

Rosa Preta..!
.
.

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sexta-feira, 12 de junho de 2015

TÍLBURI
Seh M. Pereira
.
.
.
.


ao mesmo riso: um
outro

recém,
.

mais anterior do que consta em minha certidão de
idade, e

sua
.
.

canção. eu também já observava-o; e

sua reza versada
continua foi me estendendo
a mão.
.
.

destinos formigantes em mim..
.

agradeceu-me por
tê-lo
recebido com
os

olhos.
.

se foi

como quem não
parte, ou
parte mas deixa algo; sorriu-me..
.
.

sorri com os
olhos, e me parece que
todos me olham..

sorri
.
.

com os olhos, e me
parece

que todos me olham ao mesmo passo.. meus
olhos têm o
seu

nome, viu..
.
.


ao mesmo riso: meu
recém

chegado ao centro dos meus olhos. equilibrando-se
por sobre o seio, para me ver. eu já
olhava-o, e quando me
viu
.

este nato também me sorriu..! meu
olhos têm o seu nome.. sorri com os olhos, e me
parece que todos me
olham..
.

sorri com os olhos, e me
parece que

todos me
olham
ao mesmo passo; ao
mesmo riso..

ao mesmo riso:

.
.

meus olhos têm seu nome, viu..
.
.
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sexta-feira, 5 de junho de 2015

NAFTALINA
Seh M. Pereira
.
.
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.
.

seu nome

não foi
feito pra ficar, na gaveta, guardado.. tirei
o bordado da naftalina..
dei os

nós, e
no laço da fita rendo-me..
.
.

e eu aqui
com
.

essas minhas inúmeras
mãos, de dedos em figa..
e eu

aqui, com esses
.
.

vários
.

e vários detrás dos
pés, e a gira dos ponteiros que
continuam

dando-me voltas..
.

e eu aqui
feito

um eixo que segue seu
destino em ser
ferrugem, mas não
paro..
.
.

e nato;
.

nato, nato..

é ao seu nome que
reajo
em todos os meus partos..
descosturei seu
.
.

nome na
boca
do sapo, e
adentrrei
o céu..
.
.

e eu aqui

carregando sobre os
pulsos, inúmeros nós nas fitas
com seu nome
bordado..
.

.
.

seu nome não foi
feito pra ficar, na gaveta, guardado.. tirei o
bordado da naftalina..
dei

os nós, e no laço da fita rendo-me..
.
.

e eu aqui

trocando confidências com meu
espelho-falado; e gotas
do mudo-raso
.
.

de minhas crenças.. e eu
aqui com
.

meu joelho-vesgo;
rezando ao meu, e ao santo
de sua casa..
e parto;
.
.

é ao seu
nome
que
reajo aos
meus
.

natos..
.
.

descosturei seu
nome na
boca do sapo, e adentrei

o céu..
.
.
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domingo, 24 de maio de 2015

LAMAÇAL
Seh M. Pereira
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.
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- acorda..! faz duas noites seguidas que sonho contigo. como pode..?

- foi erótico ou comportado..?

- menos, né. bem menos..! atira em outra..

- então, eu não quero saber.
.
.

- acorda!.. só se fosse erótico?

- não é isso. é que sempre que você sonha comportado comigo, eu morro no final. tenho trauma de quem sonha comportado comigo.

- sonhei que você tinha ganhado uma bicicleta.

- uma bicicleta?

- verde. uma bicicleta verde. e tinha ficado muito feliz..!

- tá. e o outro?

- o outro..? não lembro.

- não lembra, ou não quer contar?

- não lembro. atira em outra..

- eu morri no final, né..?

- já te disse que não lembro. e atira em outra.

- atira em outra?

- é. atira em outra, que eu já estou baleada..!
.
.

- um fusca no lamaçal. com os quatro pneus arriados..!

- mas, você não morreu...!

- um fusca no lamaçal. eu empurrando, e você me dizendo:

-  deixa isso pra lá.

eu tentando desatolar a caranga, e você nada. até que eu consegui, né. daí fui empurrando com mais força. com mais força, até ele pegar velocidade. olha só: com os quatro pneus arriados..! fui empurrando. empurrando. até que pegou velocidade. abri a porta do motorista, e comecei a tentar dar um tranco..

- mas você não morreu.

- eu estava tão entretido, em tentar fazer a caranga pegar que nem percebi que tinha um barranco na frente.

- mas você não morreu..!

- não morri porque você acordou gritando. eu tenho trauma de quem sonha comportado comigo, já te falei.

- olha só..! eu acordo preocupada contigo, e é isso que recebo. né..?

- é quebrar a casca do ovo, e nascer gorado.

- você fala cada coisa..
.
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- não. esta fala não é minha. é um provérbio do japonês..! que a vida é, sei lá, quebrar a casca do ovo e nascer gorado.

- não é um provérbio do japonês.

- é sim..

- não é um provérbio do japonês. é um provérbio japonês..

- não. não. não. é  um provérbio do japonês. esse provérbio é daquele japonês da granja: que a vida é quebrar a casca do ovo e nascer gorado.

- e o que quer dizer isto..?

- quer dizer que eu só queria tirar um cochilo, mas você não quer deixar..
.
.

- acorda..! é isso que eu ganho, né? e eu aqui preocupada contigo.

- sonhar que eu morro é até uma coisa, pra você, comum. mas a prestação? a prestação é a primeira vez.

- já te disse que você ganhou um bicicleta, e ficou muito feliz..!

- verde. uma bicicleta verde. e o outro sonho você não lembra. não lembra ou não que falar, né..! podia me dizer que acordou mais reluzente, né..! que eu dei um tapa na sua pele, né..! mas não, é só tragédia.
.
.

- acorda..! fala alguma coisa engraçada, para eu esquecer..

- a essa hora..?

- é..

- e tem que ser engraçado ainda..?

- é bom, pra eu esquecer.

- tá bom, então. segura a sua bronca aí, que eu vou lá vestir a roupa do patati patatá, e já volto. não sai daí..

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segunda-feira, 18 de maio de 2015

RATO DE MOCORÓ
Seh M. Pereira
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É preciso ter sorte, até para tomar café da manhã. Senão o pão cai; e com a manteiga virada para baixo.
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Sabe quando tudo dá errado?
Sabe quando você acorda e senti um troço estranho, mas não sabe bem o que é?

Tomei uma ducha, escovei os dentes e fui pra rua.
Quando chego no quintal. Adivinha só?
E o carro?
Roubaram a minha caranga..

Comecei a rezar.

Me deu um desespero, que contando você não acredita.
Abri o portão, daquele jeito, e quando penso que não, minha caranga lá no final da rua.

Saí correndo feito um doido.
Abri a porta do carro e tudo normal.

Corri em casa, peguei a chave e voltei no outro pé. Para guardar o possante.

Coloquei a chave no contato e nada do carro ligar.
E não é aquela coisa do vrum vrum puf.
Não ligava mesmo..!

Abri a capota e você não vai acreditar. O ladrão roubou a minha bateria.
.
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No racha, conheci todo tipo de bandido. Traficante, ladrão, todo tipo.
E pra mim, isto até que foi bom.
Perdi o número do tanto de vezes, que cheguei tarde da noite em casa e ninguém nunca mexeu comigo.
Também nunca mexeram com a minha mulher, nem com as minhas filhas.

Ó, sempre fumei meu cigarrinho. Tomei meu negocinho, mas nunca me misturei.
Saía com o time, disputava campeonato e tudo.
Só tinha gente fina.
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- Mexeram na minha caranga.
- Como é, queridão?
- Mexeram na minha caranga.
- Ahn?
- O ladrão abriu o meu portão. Roubou a minha bateria e desovou o possante no final da minha rua.
- Ahn?
- Quer dizer que a bateria valia mais do que o carro? Nunca me senti tão humilhado!
- Segura na confiança, queridão.
- O pessoal me ajudando a empurrar o carro e dando risada da situação.
- Queridão, segura na confiança.
- Tenho, até, a nota fiscal.
- Segura na confiança.
.
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Algo me dizia, que o racha tinha visto a minha bateria.
Sabe quando você fica com aquilo na cabeça?

Cheguei em casa e o único que parecia estar feliz em me ver, era o Tranquilidade.
Isto porque todos queriam que eu cortasse o rabo dele..!

Mal cheguei, e ouvi batendo no portão.

Olhei pela janela.

Era os gente fina do campinho. Tudo armado com pedaço de caibro.
E ao centro, um infeliz segurando uma bateria.

Uma perna travou e a outra tremia.

Quando apareci no quintal, começaram a comemorar.
.
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- Queridão, achei sua bateria.

Abri o portão e já foram logo entrando: - Coloca no possante. Vê se é.
Eu bati o olho e já sabia que era.
Quando fui fazer a instalação, fiz as marcações.
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- Não sei se é.
- Dá uma olha e vê se é.
- Não sei se é.
- Pega a nota fiscal. Você não disse que tem a nota fiscal? Vê se a numeração bate.

Entrei em casa rezando.
Rezei tanto que descobri o quanto eu era religioso e não sabia.
Peguei a nota fiscal no bolso da calça.
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- Vê se bate a numeração.
-  Bater, bati. Mas não sei se é.
- Criando Rato de Mocoró, queridão. Rato de Mocoró não se cria. É ou não é?

Se eu continuasse negando, o time vinha para cima de mim.
Eu hein!
.
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- Acho que é.
- Toma. Coloca a bateria na caranga. Vê se liga.

Abri a capota.
Coloquei a bateria no lugar e fui para dentro do carro.
.
.

- Quer que eu ligo pra você?

Eu tremia tanto, que quando encostei a chave no contato
o carro ligou.

Começaram a comemorar.
O pão do infeliz caiu com a manteiga virada pra baixo, você acredita..?
.
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- Queridão, agora abre o portão. Que a gente vai dar uma volta. Entra todo mundo na caranga!
- No meu carro?
- Coração de mãe.
- Não cabe!
- Segura na confiança. Todo mundo. Entra.

Abri o portãozão e os três sentados no banco da frente me guiando.
Entra ali, vira aqui.
Segue reto.
Vira aqui.
Vira ali.
.
.

- Para aqui, queridão.

Desceram.
Pediram que o infeliz se ajoelhasse e me entregaram o caibro para que eu desse o pontapé inicial.

O sujeito em posição de misericórdia.

Imagine você.
.
.

- Podem fazer o que quiser comigo. Mas eu não consigo.
- Homem do coração bom, viu!

Tomaram a madeira da minha mão. E o resto deixo por sua conta.
Só sei que depois daquele dia, ainda não consegui dormi.
.
.
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sexta-feira, 10 de abril de 2015

NOVELO
Seh M. Pereira
.
.
.
.
.
.. um sino de
cabeça
.
.
.
para baixo.. um
.
.
quadrúpede da perna-de-pau num
tempo-aluguel como se trocasse confidências com o
mudo-raso
de
.
suas
.
.
crenças; de sede em
sede, um
.
.
balde vazio; agora
quase
vazio.. uma estátua desancora
as nuvens.. fio a
fio
.
do
.
.
relógio-calendário, e certidões de idade me
põe
.
.
.
feito um casulo; um
sino
com a cabeça
para baixo, meio vazio.. agora
.
.
.
quase ao meio; gota a gota.. borboletas ao corte dos cordões
umbilicais.. um pingo não
enche o balde, mas
.
.
.
inicia o cortejo.. um perna-de-pau
acompanha o
gotejo como quem
cai
.
.
do céu; badaladas
da sede.. um
.
.
.
quadrúpede, e meu andar
náufrago.. um
tempo-aluguel como se trocasse confidências com o
mudo-raso
de nossas crenças; de sede em sede,
.
um
.
.
balde ao meio; agora
quase
.
.
ao cheio, e um
manco
como já tivesse gasto quatro das
vidas, e agora só restassem
a partir da antepenúltima.. uma estátua no
enrosco os dedos.. casulo quando quer se perder cria asas.. o
fio a
.
fio
.
.
dos ponteiros; o
ruído do
eixo corroído pela ferrugem a lhe
pedir licença; dedos
em figa.. um
.
quadrúpede
.
.
.
mais recém chegado ao
centro de minha vida, que de sua antepenúltima
vida; do que consta sua certidão de idade; meio-vazio é melhor
que vazio, o
gotejo que semideus dá
parece pouco mas pode me torna
novamente
.
.
nato.. peço
desculpas pelos manquejos; quem manca deve
acorda mais cedo, e
dar início ao longe ir.. se a asa é
torta, o voo pode ser reto.. ao
.
desancorar
.
.
.
nuvens; contrações sanguíneas, e novelo..
.
.
.
.

sábado, 4 de abril de 2015

APROPRIAÇÃO
Seh M. Pereira
.
.
.
.
.
De coração
em
coração.. Canela fina.
Joelho-vesgo. E os pés inquilinos
.
.
.
desapropriados dos sapatos..! Não por ordem de
despejo.
Em sinal de respeito.. Peço
licença
.
.
.
e adentro em corações..
.
.
.

.
PASÁRGADA
Seh M. Pereira
.
.
.
.
.
.. asa quebrada na minha frente,
passo
por cima, sem medo
.
.
.
de bico. Voo sem pedir esmola..! Ame
.
ou
.
.
apedreje-me.. Sou
passarinho
que come pedra..! Voar pra não
chegar..? Esquece..!
.
.
Só quero minha rota de fuga livre..
.
.
.

.

IN_CONSCIENTE
Seh M. Pereira
.
.
.
.
.
Dependendo do momento tenho fé..! Acredita em
.
.
anjos..? Vi um.. Apareceu
em
meio às minhas
perturbações; com asas enormes.. Parecia real, superficial ou mera
coincidência..? Convidou a descer, do
.
muro,
.
.
a metade que pendia para o outro lado..

.
.
.

.
CANDEEIRO
Seh M. Pereira
.
.
.
.
.
.. tropecei na minha
própria
sombra, mas
.
.
não caí.. Sorri, e acendi os vaga-lumes..
.
.
.

.

CADAFALSO
Seh M. Pereira
.
.
.
.

Da
.
janela
que me olham;
vaga-lumes
.
.
suicidas agonizam o antepenúltimo delírio..
.
.
.

.

ARMADURA
Seh M. Pereira
.
.
.
.
.
.. eu
.
e essa minha queda por você, que
não passa.. Mas se passar;
meu coração vai
.
.
pra cidade do pé junto..
.
.
.

.


SOÇOBRA
Seh M. Pereira
.
.
.
.
.
Isqueirando-me.. Faz
acontecer..! Desencadeia o estopim
para as
.
bobagens do
.
.
coração. Manda o papo
ou novos
velhos fatos.. Queria entender o amor..
.
Isqueirando-me..!
.
.
Acende o pavio e espera acontecer!.. É o fim do se..! Quero
mais
.
incêndios..
.
.
.

.

MENINO-SENHOR-AMARELO
Seh M. Pereira
.
.
.
.
.
Menino-senhor-amarelo,
da lira
.
.
.
que de propósito não se perde!.. Do
parto – não do
infinitivo do verbo partir.
.
Poético..! Menino-senhor-amarelo, da casa amarela..!
.
Não partindo  - do
gerúndio do
verbo
.
.
partir. Não partido – do particípio do verbo partir.
Da lira; que não se rasga!..
É quebrar a
casca do ovo e
.
.
nascer de olhos abertos..! A benção..
.
.
.

.

DES_CAMINHO
Seh M. Pereira
.
.
.
.
.
Perdi
.
.
minha certidão de
idade; agora
conto
.
os anos,
.
.
.
na gastura dos sapatos..!
.
.
.

.
MARGEM
Seh M. Pereira
.
.
.
.
.
.. o amor
é
.
uma mercadoria, se tombar o
caminhão
.
.
.
a gente vende barato..
.
.
.

.
HELIANTO
Seh M. Pereira
.
.
.
.
.
Estendi
.
.
minha lágrima para quarar; agora,
dou
.
tempo ao tempo..
.
.
.

.

INADIMPLENTE
Seh M. Pereira
.
.
.
.
.
.. amarro, quedas ou me permito..Tendo meus pés como
inquilinos,
sapatos correm; quero cruzar a
linha da sua porta
.
entreaberta! Cadarços desamarrados. Aluguel
atrasado.. Lonjuras,
.
.
juras, jurados e eu - réu..
.
.
.

.


CAÔ
Seh M. Pereira
.
.
.
.
.
.. troco confidências com meu
outro eu, com
o meu eu e todos os
.
outros;
.
.
mas as paredes têm ouvidos..
.
.
.

.
ESCAPULÁRIO
Seh M. Pereira
.
.
.
.
.
.. des_costurei seu nome na boca do
sapo..!
.
Metade de mim, no inferno;
não adentro o
.
.
céu..
.
.
.

.

quarta-feira, 18 de março de 2015

RATOEIRA
Seh M. Pereira
.
.
.
.
.
Nosso
.
.
amor
.
é do tamanho
de um elefante..! Nosso
amor
é
.
parelho - no sentido figurado.. Marca
atalhos inesperados.. Tem
medo de
.
.
ratificação..! Nosso
amor
é uma pata de elefante, que por onde passa
fode tudo; mas todas as
.
formas
.

de amor me interessam;
todas.. O amor
é uma
.
ratoeira
.
.
.
que tem medo..
.
.
.

segunda-feira, 16 de março de 2015

PUTATIVA
Seh M. Pereira
.
.
.
.
.
Bela,
bivitelina de bélica.. Paz
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casta!..
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No avesso do
avesso
do avesso.. Feia pudenda!..
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Desvirginada
a guerra e
o hímen
da bela
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permanece.. No avesso do
avesso
do avesso..
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Paz pudica..! Feia,
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isenta
de
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todas as restrições!.. No exercício do
direito.. Bela,
sob condições de
controle
de conduta!..
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No avesso do
avesso
do avesso..
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Bela,
bivitelina da bélica.. Convento de
paz, e guerra no mundo..
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Na via sacra, prostibulo de
bélica e bela
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putativa..
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sexta-feira, 13 de março de 2015

ENSEJO
Seh M. Pereira
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.. como um poeta revisitando os corações..
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No inquieto das mãos
me escondo..
Na odisséia do duo
eu amadureço!..
No enrosco dos dedos
eu espero..!
Na exceção da regra
me abstraio..
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No defronte do espelho
me revejo..
No decerto do tento
eu aprendo..!
Na recusa do direito
eu argumento!..
No ensejo do inacabado
eu finalizo.
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.. como um poeta revisitando os corações..
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No desconserto do não
eu persisto..!
No silêncio do noturno
me dispo..
No direito do açoite
me perdôo..
No desconforto da rotina
eu fujo!..
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No contraponto da balança
me avalio..
No inverso do ócio
me vejo..
No desassossego do cio
me acho..!
No enlaço das pernas
me jogo..
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.. como um poeta revisitando os corações..
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No desprezo do zero
eu recomeço.
No contradizer do juízo
eu brigo..
No encalço do infinito
me busco..!
No insano dos lençóis
me encontro..
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No inquieto do deleite
me perco..
No efêmero do agora
me inspiro..!
No ensejo do reencontro
me permito.
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.. no mais,
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até mesmo da mesmice, sempre vem a
novidade; como um
pintor salpicando tinta na tela..
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No repente das paixões,
me tento..!
No desarranjo das canções,
me ouço..
No embaraço da cena,
eu improviso.
No contratempo do tom,
eu canto..
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Na disritmia do coração
me proponho..
No ensejo do reencontro
me permito..!
Na intempérie do tempo
eu cresço.
No descompasso da dança
me arrisco..!
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No acaso do amor
me entrego!..
No inerte do diurno
me renego..!
No contento do riso
me visito!..
No avesso dos ponteiros
me dito..
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terça-feira, 10 de março de 2015

SAMBENITO
Seh M. Pereira
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Não despida de um chão-passarinheiro, nos
interrogatórios dos demônios de si fez-se aliados e manquejo; do sangue que benzia-lhe as
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pernas.. Incendiando igrejas, minha
fiandeira-avó era
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Maria
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entre outras inúmeras
Marias sucessora das não-graças; condenada por suposta prática pagã.. testemunhei seus milagres em batalhas de
corpo aberto, e ferrugem.. acabei por reacender seu
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nome bordado de beata por agulhas internas, incendiando-me..
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Do relógio-calendário;
iniciou-se as negociações antecipadamente, fio a
fio,
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para chegar-se
até uma justa figura, ou o desaperto dos
ponteiros que continuam dando-lhe giros.. Minha
fiandeira-avó era uma santa sem as
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regalias realizadas de um tempo-aluguel.. Entregou-se ao seu carrasco em um auto-de-fé..
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Do nato de data interrogativa de um quarto-gestante, e prazo; contrações externas.. Minha Maria foi uma pagã
canonizada
sem ordem de despejo, filha de uma humanidade ruim das
pernas.. Das não-graças, era
mais uma em meio à outras inúmeras; tecia fio a
fio o tempo, e
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nas vagas do seu tempo-aluguel vendia
pedras.. Negociava
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prazos, em
espelho-falado, e atravessa-me em
gritos sem qualquer cobrança de depósito da penhora..
Tentou me despir dessa
desumanidade que se mostra em injusta figura, e
interesses estabelecidos às claras.. Negociava tréguas não-gratuitas com
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os demônios de
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si, no corte
das arestas do seu sinal da cruz; uma
descriadora do mundo quando despida do enrosco dos dedos..
Com minha maria aprendi
as técnicas dos alicerces não esquivar-me dos
apedrejos.. com minha Maria aprendi a colher as pedras e batizá-las cada qual
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com
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nome de santo, e outros momentos unitivos.. Depositava perna-de-pau como ex-voto para uma humanidade
ruim
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das pernas.. De minha Maria não-cheia-de-graça herdei a
devoção de um quarto-gestante de milagres.. Do sangue que lhe benzia
no meio das pernas,
pólvora.. Das lutas glórias em
prostibulo votivo em desacordos com
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aliados..
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Abro as gaiolas,
e agora atravesso os territórios defendidos pelos
demônios de si feito Maria minha fiandeira.. Cumpro as ordens
restritas em confidências do auto-da-fé, devoto das não-graças; rezando ao
seu santo de casa e aos de
outras
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confissões..
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Por diversos, escuto sua voz-surda em
confidências com as paredes do quarto-gestante; vestida de interrogatório aos
pés de outros incêndios; por motivo de honra reabilitada.. Uma
santa que pariu essa
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humanidade
manca; minha avó, queimada viva, morreu virgem de
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milagres..
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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

OMIYAGE
Seh M. Pereira
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Aluguel

atrasado.. Seio seco, em
dia
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de testemunho, engordando filho bastardo da
devoção
como se fosse legítimo herdeiro; do
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olho aberto ao
gorado.. Placenta cortada e cordão
umbilical; a
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quebra da casca do ovo sem os
enganos
que semi_deus dá; faca entre os dentes.. Um sopro;

ventre
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rasgado, e a ressonância oca de quem pende a
ordens
de despejo.. Ex-voto de humanidade

é
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perna-de-pau..
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sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

CÂNULA 
Seh M. Pereira 
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E de gota em 
gota, 
um entrelaçar-se de 
inúmeras cordas bambas tracejadas, que 
além de equilíbrio, propõe preenchimento; um manter-se em pé ao sopro dos barros de um semideus.. Das diferenças que torna-me parelho 
as 
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vindas; um destino fecundo, 
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é fecundo 
ao 
seu modo.. Ando sob as cabeças dos que torcem para 
a corda arrebentar; um batismo que me 
une a outros sobrenomes, além da certidão de idade.. Um chão cru, de 
longe ir; onde permito-me mesmo sem 
saber, ao
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certo, meu destino..
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segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

GORJEIO
Seh M. Pereira

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E me submeto a
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cesarianas na garganta.. Carrego em
si
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interrogações; das
sentenças, ao joelho-vesgo, todo
gota a gota dos ponteiros tem seu assento.. Das
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rezas,  ao santo de casa.. É quando meus
gritos
despidos de
força se
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mostram fecundos..

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